Eu sei que entre a Família Neme o carnaval sempre foi uma festa. Sei que meu avô sempre reservava as melhores mesas do clube, levava todos os filhos, cantava, dançava e sorria. É significante no Fator Neme gostar de uma bagunça.
Meus primeiros carnavais foram no interior... Carnaval de salão, com marchinhas, fantasias, confete, serpentina e primos, muitos primos.

As fantasias desconfortáveis nunca foram muito meu forte, então com o passar do tempo essa festa foi perdendo a graça pra mim. Até que, na adolescência, alcançou seu ápice: eu fugia do carnaval. Viajava sempre para algum lugar fora da rota dos foliões, das músicas e de tudo que se relacionasse.
Quando eu fiz lá meus 18 anos, nutria uma paixão violenta pela Bahia, especialmente por Salvador, suas ruas, seu povo, seu sol, seu mar.
Ia pra lá duas vezes por ano, nunca em fevereiro. O carnaval era o "elefante na sala". Ele sempre estava em peso lá (dãh), mas eu fazia um esforço para ignorar.
Até que um dia não deu. O "elefante" ia desfilar na porta do meu hotel. E as minhas amigas baianas (pessoas espetaculares) reservaram para o xodó delas (meu pai) a mesa com a melhor vista para o tal do evento.
Ok, eu fui... Suuuuper relutante. Afinal, grande porcaria esse Farol Folia pra me tirar da minha paz.
Todos aqueles grandes artistas que eu fazia questão de não conhecer passaram ali na minha frente. Sim! Passou o da bandana, o louco fazendo coreografia de tartaruga, as bandinhas da moda daquele verão, o louco do Brown (esse eu até curtia) e, enfim, o tal do Araketu.
Na hora desse último passar (e liberar a avenida pra eu poder ir até o Mercado Modelo), acreditem, o trambolho do caminhão quebrou.
O coitado do vocalista ficou lá fazendo graça, cantando o repertório inteiro, e surpreendentemente eu já sabia várias daquelas letras. Mesmo assim, cansei. Estava virando as costas quando ouvi o convidado que era chamado a cantar: Djavan.
Ele estava hospedado lá no Othon para um outro show, no final da semana.
Tá bom, vai, eu fico mais um pouco...
O que aconteceu em seguida foi um encantamento tão grande que me arrepia até hoje.
A voz doce do Djavan ecoou... Pai e mãe, ouro de mina...
Olhei pra baixo e vi o delírio das milhares de pessoas que presenciavam aquilo, olhei pro lado e vi o mar azul ao entardecer, o céu colorido, senti o calor baiano queimando e o vento no rosto.
Tinha como não me entregar?
Me entreguei.
Ao sair, a banda foi cantando Ô meu pai, eu tava no Ara, meu pai...
E aí eu decidi: esse ano eu volto no carnaval. Ah, se volto...
Aí todo mundo sabe que eu voltei, né? E voltei por uns 6 ou 7 anos. Mas essas são histórias que eu conto em outros posts. Porque tem história pra caramba...
Ainda é difícil não ir pra lá no carnaval.
Esse ano vou fazer plantão na frente da tv e pular por aqui mesmo.
Não tem o mesmo gosto, mas sei que se fechar os olhos, eu vou pra lá sim...
Chame chame chame chame gente...