quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Eu e o Carnaval

Eu sei que entre a Família Neme o carnaval sempre foi uma festa. Sei que meu avô sempre reservava as melhores mesas do clube, levava todos os filhos, cantava, dançava e sorria. É significante no Fator Neme gostar de uma bagunça.

Meus primeiros carnavais foram no interior... Carnaval de salão, com marchinhas, fantasias, confete, serpentina e primos, muitos primos.

As fantasias desconfortáveis nunca foram muito meu forte, então com o passar do tempo essa festa foi perdendo a graça pra mim. Até que, na adolescência, alcançou seu ápice: eu fugia do carnaval. Viajava sempre para algum lugar fora da rota dos foliões, das músicas e de tudo que se relacionasse.

Quando eu fiz lá meus 18 anos, nutria uma paixão violenta pela Bahia, especialmente por Salvador, suas ruas, seu povo, seu sol, seu mar.
Ia pra lá duas vezes por ano, nunca em fevereiro. O carnaval era o "elefante na sala". Ele sempre estava em peso lá (dãh), mas eu fazia um esforço para ignorar.

Até que um dia não deu. O "elefante" ia desfilar na porta do meu hotel. E as minhas amigas baianas (pessoas espetaculares) reservaram para o xodó delas (meu pai) a mesa com a melhor vista para o tal do evento.
Ok, eu fui... Suuuuper relutante. Afinal, grande porcaria esse Farol Folia pra me tirar da minha paz.

Todos aqueles grandes artistas que eu fazia questão de não conhecer passaram ali na minha frente. Sim! Passou o da bandana, o louco fazendo coreografia de tartaruga, as bandinhas da moda daquele verão, o louco do Brown (esse eu até curtia) e, enfim, o tal do Araketu.
Na hora desse último passar (e liberar a avenida pra eu poder ir até o Mercado Modelo), acreditem, o trambolho do caminhão quebrou.
O coitado do vocalista ficou lá fazendo graça, cantando o repertório inteiro, e surpreendentemente eu já sabia várias daquelas letras. Mesmo assim, cansei. Estava virando as costas quando ouvi o convidado que era chamado a cantar: Djavan.
Ele estava hospedado lá no Othon para um outro show, no final da semana.
Tá bom, vai, eu fico mais um pouco...

O que aconteceu em seguida foi um encantamento tão grande que me arrepia até hoje.

A voz doce do Djavan ecoou... Pai e mãe, ouro de mina...

Olhei pra baixo e vi o delírio das milhares de pessoas que presenciavam aquilo, olhei pro lado e vi o mar azul ao entardecer, o céu colorido, senti o calor baiano queimando e o vento no rosto.
Tinha como não me entregar?
Me entreguei.

Ao sair, a banda foi cantando Ô meu pai, eu tava no Ara, meu pai...
E aí eu decidi: esse ano eu volto no carnaval. Ah, se volto...

Aí todo mundo sabe que eu voltei, né? E voltei por uns 6 ou 7 anos. Mas essas são histórias que eu conto em outros posts. Porque tem história pra caramba...

Ainda é difícil não ir pra lá no carnaval.
Esse ano vou fazer plantão na frente da tv e pular por aqui mesmo.
Não tem o mesmo gosto, mas sei que se fechar os olhos, eu vou pra lá sim...

Chame chame chame chame gente...

Um comentário:

Kadu Taioli disse...

É dificil contribuir em um blog tao especial mas queria dividir minha historia de carnaval...

Falar o que do Carnaval em Salvador? É muito dificil falar de lá! Eu escolhi ir uma unica vez, para conhecer direito.

Vou em shows de axé desde o começo dos anos 90, no Carnasampa com Netinho na Av. Roberto Marinho em SP (sim, sao Paulo tinha micareta de rua). Desde então pareça que o axé foi entrando na minha vida devagar e conquistando pequenos espaços… No passar dos anos o sentimento foi evoluindo, fui conhecendo outras bandas, outros shows, outras cidades… e a vida foi passando por mim…

Chegamos no começo dos anos 2000 e os eventos estavam se tornando enormes aqui em Sao Paulo: CarnaFaap, Carnasampa, shows no estancia… todo mundo falava da maldita cidade de Salvador no carnaval. Eis que em 2003 criei coragem e virei a noite na internet esperando abrir os lotes do Camaleao e do Me abraça… E vamos que vamos explorar essa cidade. Para o carnaval de 2004 os abadas acabaram em exatos 1 ou 2 dias. Nao tinha como entrar no site, caia direto, conexões pessimos, preços altos, o caos… mas valia a pena para conhecer… Hotel reservado no farol da barra, abadas comprados, faltava esperar uns 300 dias para o carnaval chegar. EITA ANO LONGO…

Quando chegou o grande dia, 5a feira, fui pra SSA e chegando lá parece que voce esquece todo o perrengue que passou e tudo ganha uma cor diferente, um visual unico e o tempo roda de um jeito especial.

Na 5a feira fui pro farol para sair no Cocobambu com o Asa. Quando começam os acordes no farol e o trio faz aquela primeira curva, nao tem explicação, nao existem palavras em nenhuma lingua que traduza o sentimento que toma conta daquela massa que pula ao lado do caminhao… e a alegria toma conta da avenida… e voce vive como nunca… e ai vem o Nana Banana…. E ai vem a 6a feira, com dobradinha de novo… e ai vinha o sabado com o MITOLOGICO nana banana de sabado, que saia as 5 da tarde…

Capitulo especial no meu carnaval. Estar na avenida ao lado do trio do chiclete e ver o começo do show com o sol se pondo no farol da barra é uma coisa que emociona e destroi qualquer barreira que voce tenha. Mas nao tem como explicar, tem que estar lá para viver… Perceber que o Bell reduz o ritmo das musicas em trechos dos circuito para que a pipoca nao se mate demais é algo surreal…. E assim foi ate a 4a de cinzas…

O carnaval para mim nunca foi o mesmo depois de Salvador. Parece que as coisas rolam de um jeito diferente lá, nao tem explicação, é muito bom. Nos ultimos anos descobri o Carnaval de Votuporanga, parecido com Salvador, avenida, bloco, abada, trio eletrico, cobertura da band (“mae to na band!”) e por ai vai e posso dizer que é muito proximo. Mas nao tem o farol da barra.

Para mim, o que marca o carnaval e me faz chorar sempre é o nana de sabado. Com o sol se pondo. No farol da barra. E aquele som do chiclete no fundo. Com a massa pulando e extasiada sem acreditar que aquilo existe.

Pra ser sincero ate hoje nao sei se aquilo existe mesmo ou foi um sonho meu…